25/04/2009

25 de Abril

Como tinha prometido cá estão as fotos que provam que a Primavera já chegou cá! É impressionante a quantidade de flores que se vêem por todo o lado.



Devem ter reparado que escrevi a palavra vêem acima. Tenho sempre problemas com o verbo ver no Presente do Indicativo e isto acontece devido ao verbo ter no mesmo tempo verbal. Porque é que fazemos o som do "ê" depois do som do "e" mas escrevemos ao contrário? Não faz muito sentido e para além do mais, quando se pensa no verbo ter acaba por se ficar confuso com o verbo ver.
É curioso como isto se pode aplicar à vida fora da gramática. Na realidade, é mesmo difícil ver muitas coisas quando se pensa no ter. Não quero com isto dizer que ter é mau e ver é bom. Algumas vezes é, alguns vezes não. Muitas vezes não ver ajuda a viver sem se reparar no que não se tem, tornando a vida mais suportável. Por outro lado, quando se tem algo, é difícil ver como seria se não o tivéssemos. Há muito para nos nublar a vista e nos fazer esquecer daquilo que devíamos ter e não temos.
Isto lembra-me que é 25 de Abril hoje. Dia da Revolução dos cravos, a única revolução do povo Português. Pergunto-me muitas vezes como os Portugueses, que costumavam ser tão aventureiros e empreendedores por alturas do século XV, se tornaram num povo submisso e conformado com tudo o que lhe põem à frente. Costumo dizer que os aventureiros partiram nos barcos e só ficaram por cá os Velhos do Restelo que não tinham coragem para mais senão para criticar a coragem daqueles que se meteram nos barcos e partiram.
O que é certo é que tivemos uma revolução e o facto de a termos tido, ocultou-nos o facto de ter sido uma coisa muito pobrezinha: uns queriam fazer uma revolução e foram ter com quem mandava para a fazer e depois quem mandava disse "Pronto, está bem! A gente deixa-vos fazer a revolução." Por acaso acabou por ser suficiente para mudar alguma coisa.
Não digo que foi mal feito ou que eu teria feito melhor, nem tão pouco estou a querer minimizar a luta daqueles que realmente lutaram. Estou apenas a tentar perceber porque é que a nossa Revolução para ter de volta a Liberdade foi algo tão pequeno, quando éramos tantos a sofrer pela falta de uma Liberdade à qual não damos valor hoje porque já nos habituámos a tê-la.
Hoje temos essa Liberdade que alguns pensaram estar a conquistar de volta num 25 de Abril de 1974 e não a usamos.
Queixamo-nos do governo e do estado do país mas "se quisermos encontrar algum culpado só temos de olhar para um espelho". Qual de nós nunca aceitou uma ajuda de uma cunhazita? Qual de nós nunca ocultou um pouco da verdade para obter mais benefícios? Qual de nós nunca disse ou prometeu uma coisa e depois fez outra? Qual de nós nunca tentou fugir à responsabilidade, deitando as culpas para cima de qualquer outro?
O país está mal, a culpa é do governo. É só corrupção no futebol e na política, mas vou só ali buscar um atestado médico do qual não preciso para poder ficar uns dias em casa e receber algum dinheiro. Os alunos não aprendem nada, não porque não estudam, mas porque os professores não prestam. Os alunos ricos têm bolsa de estudo e os alunos pobres ainda recebem menos bolsa que os ricos. Tratam-se melhor os estrangeiros que vêm a Portugal do que os Portugueses que por lá passam.
Eu sei que nem tudo é assim tão linear e que há muito boa gente em Portugal, que trabalha e desconta honestamente. Mas há tanta que não o faz e a que faz, por se ver tão injustiçada, acaba por se corromper quando a oportunidade aparece.
Eu perdi a fé em Portugal há muito tempo. Lembro de alguém me dizer um dia que eu estava a ser egoísta porque estudei no meu país, sempre a usufruir do que o país me proporcionou e agora que era a altura de eu dar algo em troca, eu estava a virar as costas e a fugir à minha responsabilidade de cidadão.
Não me lembro o que respondi a essa pessoa, mas posso dizer agora que nunca usufrui de nada que o país me desse. Se tive educação e comida foi porque os meus pais se mataram a trabalhar e só gozaram férias duas ou três vezes em 25 anos; foi porque só jantámos num restaurante umas 10 vezes em 25 anos; foi porque não comprámos uma televisão do tamanho da parede da sala de estar, nem uma aparelhagem com potência para fazer a festa da Loureira, nem um carro novo quando os velhos que temos começaram a queixar-se que eram velhos demais, nem uns móveis de cozinha novos. Se pude estudar fora do país foi porque eles se esmifraram para tentar dar-me o dinheiro necessário para eu sobreviver lá porque sabiam que era uma grande oportunidade para mim.
Agora não me venham com tretas! Tudo o que tive e tenho agora, tudo o que sou devo-o aos meus pais, à minha família e aos poucos amigos que tenho. Não ao país que nunca quis saber de mim a não ser para pagar livros da escola e propinas.

Perdi a minha fé em Portugal há muito tempo e apesar das saudades da família, dos amigos, da comida e do sol, se tivesse tudo isso comigo em qualquer outro lugar do mundo, diria que aí é a minha casa.

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